Não é novidade pra ninguém o quanto eu gosto de assistir filmes e seriado, dramas policiais, suspenses. Desde criança eu via esses programas na tv onde mostrava assassinatos, casos de crimes e tragédias reais. Sempre fui forte, achava bem chocante, mas sabia que não era comigo, ou que era apenas um programa então erá fácil esquecer.
Mas essa história mudou a pouco menos de 48 horas.
Era uma noite de sexta feira e eu diferente do costume não quis sair de casa, peguei um livro e fui dormir razoavelmente cedo, pois no sábado de manhã ia sair as 7 no testemunho informal.
Eu não lembro exatamente ás horas, mas um pouco antes da 1 hora da manhã, eu acordei não sei por qual motivo e percebi as cachorras latindo, e uma oscilação nas luzes, o ventilador que estava ligado desligou, ligou outra vez e desligou de vez, as luzes do estabilizador, e a luz da sala vi que se apagaram também. Achei estranho, mas isso já aconteceu outra vez, no bairro todo, acabar força no meio da noite.
Poucos minutos eu ouvi buzinas de carro e o vizinho gritando nome do meu pai, sai correndo lá fora e ele começou apontar a casa no fundo e gritando “a casa lá no fundo tá pegando fogo, a casa tá pegando fogo” eu entrei em choque total, tentava abrir o portão que parecia ser a coisa mais dificil naquele momento, enquanto eu tentava abrir portão e pegar mangueira pra levar até o quintal ele gritava dizendo pra eu ligar para Defesa Civil enquanto ele próprio estava com celular.
Detalhe é que a energia elétrica tinha sido cortada devida ao fogo, uma escuridão total. Eu saí correndo com a mangueira enquanto fogo já começava atingir o telhado, e quando eu vou no quarto tentando ver se meu vô tinha saído de lá, me deparo com a cena mais horripilante que já vi em toda vida, a cama completamente destruída e meu avô em cima dela completamente queimado e irreconhecível. Quarto virou um cenário de filme de terror, só que dessa vez não foi por uma tele de computador ou televisão, era uma cena real, bem ali na minha frente, na minha casa, levando embora alguém que eu amava, discutia muitas vezes, tentava protege-lo das próprias teimosias..e ali estava ele, um pedacinho diminuto de carvão queimado, todo destruído pelas chamas. Enquanto a isso a minha mãe, filha que ele amava a cima de tudo, e que ela era devota acima de qualquer pessoa nesse mundo, jogando baldes de água no pai tentando de alguma maneiro “salvá-lo” embora ele já estivessem morto a muito tempo.
Eu me considero uma pessoa bem forte, já passei por poucas e boas nessa vida, principalmente por doenças e perdas de entes queridos na morte.
Mas naquele momento me senti a pessoa mai fraca, mais inútil, e covarde do mundo.
Parecia um pesadelo, eu não aceitei naquele momento o que estava acontecendo, tentava acordar convencendo que estava vivendo um pesadelo, mas eu não conseguia acordar, era tudo real, e estava ali diante dos meus olhos.
Cenas que sei que jamais se apagarão da minha mente, pesadelos que comecei a ter, com as poucas horas de sono que tive, coisas que li em livros, traumas depois de um acontecimento chocante que eu imaginei que só aconteceria na ficção, agora está bem vívido na minha mente e no meu coração. Um dor pungente que me faz ter febre, ânsias e tremores, e alguns momentos de ataques de fobia.
Todo mundo morre eu sei, e sabia que uma pessoa de 100 anos logo iria nos deixar. Mas as circunstancias em que ele se foi, não poderia ter sido assim, não poderia!
Se foi a pessoa que perguntava todo dia se eu já tinha almoçado e jantado, que me dava 30,00 reais todo mês sem eu pedir. Que muitas vezes me emprestou dinheiro para comprar lanche a noite e quando eu ia pagar se recusava a aceitar. Que me pedia melancia e coca-cola , que pedia para eu ligar a televisão da sala para simplesmente ficar ali vendo o que passava sem entender.
A pessoa pela qual eu mantinha um caixa de primeiro socorros na minha gaveta e que eu fazia e refazia curativos quando se feria, a pessoa que me sujou de sangue várias vezes com aquela pela centenária sensível a qualquer toque.
Acabou de uma forma estupidamente, enquanto eu simplesmente dormia!
É algo que eu nunca me perdoarei!